12 de jul. de 2010

Sob teu silencio
Não me doeria ser o teu ditado,
e só pelos teus olhos tudo ter;
sob teus pés sentir-me derramado
como seu chão de afeto e de prazer;

ser em teu sonho gesto de passado,
buscar teu sol e lua e dissolver- me,
pelo seu excesso fulminado;
ser fragmento da sombra do teu ser:

ainda formas de luz inventaria,
frutos no céu, manhãs na ramaria,
montanhas de ouro, lira à flor do mar,

se o sim nem não, sem letras e sem boca,
em que te enterras não me fosse a oca
morte onde murcho e cevo a dor de amar.

(Abgar Renault)